No auge de uma crise política em torno do pacote fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, iniciou nesta segunda-feira (16) um período de férias. A ausência, ainda que respaldada por regras do banco de horas do governo, acontece em meio à votação da urgência do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que busca derrubar o decreto do Executivo sobre o aumento do IOF — uma das medidas centrais da equipe econômica para equilibrar as contas públicas.
Durante sua ausência, o comando da Fazenda fica nas mãos do secretário-executivo Dario Durigan. O gesto pode parecer administrativo, mas o efeito político é inevitável: o principal articulador da estratégia fiscal do governo deixa o palco justamente quando o Congresso ameaça desmantelar parte do plano.
As férias, originalmente previstas para julho, foram antecipadas por razões técnicas — Haddad teve de cancelar seu descanso em janeiro para lidar com o atraso do Orçamento de 2025. Agora, com 28 dias acumulados e o sistema interno de horas pressionando, optou-se por uma folga em plena ebulição legislativa.
O momento, no entanto, não poderia ser mais inconveniente. A votação da urgência do PDL pode abrir caminho para a derrubada do decreto sobre o IOF ainda nesta semana. O Planalto já recebeu alertas de que, mesmo se a urgência passar, líderes da Câmara consideram votar também o mérito do projeto hoje, antecipando uma derrota fiscal concreta.
Haddad tem sido a figura central na defesa da taxação de instrumentos como LCI e LCA e no reposicionamento da política fiscal para enfrentar a resistência do Congresso. Sua ausência em um momento de crise transmite, no mínimo, um sinal de descompasso estratégico. O governo segue tentando costurar apoios, mas sem sua voz principal na negociação.
O presidente Lula tentou compensar o vácuo no fim de semana, reunindo-se com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e outros articuladores políticos no Palácio do Alvorada. A movimentação busca conter a votação do mérito do PDL, mas não há garantias.