Interceptações autorizadas pela Justiça mostram ordem para “sete dias sem guerra e roubo” em fevereiro de 2024
Rio de Janeiro, 19 de maio de 2025 – A Polícia Federal (PF) descobriu um conjunto de mensagens em que a cúpula do Comando Vermelho (CV) determinava uma trégua de “sete dias sem guerra e roubo” na capital fluminense durante a realização da cúpula do G20, em fevereiro de 2024. As interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça Federal do Rio.
Segundo os documentos sigilosos, o traficante Arnaldo da Silva Dias, o “Naldinho”, preso na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3) e subordinado ao Escritório Permanente do CV, transmitiu as ordens em três comunicados diferentes:
- 1º de fevereiro de 2024: “Segurem sete dias sem guerra e roubo para a nossa cabeça não tremer durante o G20.”
- 3 de março de 2024: “Silêncio total até acabarem as reuniões dos chefes de Estado. Qualquer ação isolada será punida.”
- 14 de março de 2024: “A semana inteira sem tiroteio nas comunidades. Entendam como respeito aos visitantes.”
A estratégia, segundo analistas de segurança, buscava reduzir a visibilidade de conflitos armados e furtos de carga justamente enquanto ministros e delegações de 20 países circulavam pela cidade. O foco estava em preservar as rotas de fornecimento de drogas e armas, além de evitar operações policiais que pudessem comprometer as lideranças do tráfico.
A investigação da PF identificou também a existência de um túnel subterrâneo sob o Presídio Vicente Piragibe, em Gericinó, usado historicamente para remessas clandestinas e possível rota de fuga. O acesso foi mapeado em operação de 2023 e permanece sob monitoramento das Forças de Segurança.
Em nota oficial, a PF informou que as interceptações ainda são objeto de inquérito, sem previsão de conclusão. A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
Especialistas ouvidos pelo DFMobilidade alertam que a trégua temporária não se repetiu em eventos posteriores e destaca-se o desafio de manter o equilíbrio entre missão diplomática e combate ao crime organizado em grandes reuniões internacionais.
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Hamilton Silva
Jornalista e economista, editor-chefe do DFMobilidade
