Em 12 de maio de 2025, durante visita oficial a Pequim, o governo brasileiro e autoridades chinesas assinaram memorandos de entendimento para viabilizar a construção da chamada Ferrovia Bioceânica, projeto que prevê ligar o porto de Ilhéus (BA) ao recém-inaugurado megaporto de Chancay, no Peru . O acordo estabelece parcerias técnicas e financeiras entre a Valec Engenharia e Construções, estatal brasileira, e a China State Railway Group, além de prever suporte do Exim Bank of China para o financiamento inicial das obras .
Antecedentes históricos e concepção do projeto
O traçado da Ferrovia Bioceânica remonta aos estudos da década de 1950 sobre a Estrada de Ferro Transoceânica (EF-354), idealizada para interligar o Oceano Atlântico ao Pacífico atravessando o continente sul-americano . No início dos anos 2000, iniciativas regionais como o IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana) e o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) retomaram o projeto, incluindo estudos de viabilidade técnica para segmentos como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) .
Rota proposta e especificações técnicas
O corredor biocéanico terá extensão aproximada de 3.000 quilômetros em território brasileiro, partindo de Ilhéus e seguindo pelos eixos da FIOL até o entroncamento com a FICO, em Goiás, cruzando o Matopiba (área que compreende Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o Acre e Rondônia, antes de adentrar o Peru em direção a Chancay . Prevê-se bitola padrão de 1,435 m, eletrificação completa e capacidade inicial para transporte mensal de 5 milhões de toneladas de grãos, minérios e contêineres.
Impactos econômicos e geopolíticos
Especialistas destacam que a ferrovia reduzirá em até 40% o custo do escoamento de commodities para mercados asiáticos, ao cortar cerca de quatro mil quilômetros do percurso marítimo tradicional via Canal do Panamá . O projeto fortalece ainda a inserção do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota da China, alinhando-o a novas rotas de comércio transcontinental e atraindo investidores estrangeiros para o agronegócio e setor mineral.
Financiamento e cronograma estimado
Conforme afirmou a ministra do Planejamento, Simone Tebet, à agência Brasil, o aporte financeiro chinês envolverá linhas de crédito do Exim Bank of China, cobrindo até 80% do custo total estimado em US$ 7 bilhões, com desembolsos condicionados a marcos de avanço físico e licenciamento ambiental . O acordo prevê conclusão dos estudos de viabilidade até dezembro de 2025, lançamento de edital de licitação no primeiro semestre de 2026 e início das obras no segundo semestre de 2026, com previsão de operação comercial em 2030.
Desafios socioambientais
Organizações independentes alertam que o traçado proposto atravessa áreas de proteção ambiental, parques nacionais e territórios de povos indígenas, exigindo licenciamento rigoroso e consulta prévia às comunidades afetadas . O processo de EIA/RIMA, conforme a legislação federal (Lei nº 6.938/1981 e Resolução Conama nº 001/1986), deverá avaliar riscos de desmatamento e propor medidas de mitigação, como corredores ecológicos e compensações ambientais.
Próximos passos
Nas próximas semanas, o Ministério da Infraestrutura publicará o Termo de Referência para o Estudo de Viabilidade Integrado (EFI), dando início aos processos de licenciamento ambiental e consulta pública. Representantes do setor privado e de estados pelo qual a ferrovia cruzará serão convidados a apresentar contribuições técnicas, enquanto a Casa Civil acompanhará o cumprimento dos cronogramas acordados.
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