As duas viagens a Paris do ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, custeadas com cerca de R$ 190 mil em passagens e diárias, não renderam o prometido. Após as reuniões com a direção da Air France, a companhia anunciou ajustes que pouco beneficiam o Brasil — inclusive com suspensão temporária do voo Salvador–Paris entre 9 de março e 25 de abril de 2026. No restante, a expansão é tímida e concentrada na alta temporada, mantendo o país fora do centro das novas prioridades.
O discurso oficial foi de “articulação para ampliar rotas” para capitais como Brasília e Recife. Na prática, a malha anunciada privilegia novos destinos turísticos fora do Brasil — como Phuket e Punta Cana — e reforços para Orlando, Cancún, Cidade do Cabo, Bangkok e Dubai. No Brasil, há picos sazonais (dezembro e janeiro), seguidos de manutenção do patamar atual, sem ganhos estruturais que justifiquem o giro diplomático.
O ministério atribui a suspensão em Salvador à baixa temporada e promete retomada com três voos semanais a partir de 27 de abril de 2026, além de “ampliação a partir de junho”. Prometer é fácil; o que se vê é o Brasil em segundo plano enquanto a empresa abre ou reforça rotas onde a demanda é mais sólida. Missão internacional sem resultado concreto vira turismo oficial com nota de prensa.
Chama atenção a insistência do governo em vender como “vitória” um cenário que, na melhor hipótese, ficou no zero a zero. Nem Brasília — pauta recorrente nas falas do ministro — teve anúncio efetivo. O país segue dependente de reforços pontuais de verão, sem política clara para reduzir custos operacionais, destravar acordos bilaterais com metas verificáveis e dar previsibilidade às companhias.
Se o objetivo era baratear passagens e ampliar conectividade, faltou o básico: metas, cronograma e contrapartidas. Enquanto isso, os cofres arcam com viagens, e o passageiro brasileiro continua pagando caro por um sistema que patina entre promessas e comunicados otimistas.
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