Depois de ver a MP 1.303 cair na Câmara, o Ministério da Fazenda decidiu “fatiar” a pauta fiscal. A nova tática é mandar ao Congresso dois projetos de lei: um só para aumentar receitas; outro para cortar e controlar gastos. Estratégia de sobrevivência? Sim. Reforma estruturante? Nem de longe.
No lado das receitas, entram velhos conhecidos: taxação de bets, fintechs e ajustes em controles de créditos tributários — um cardápio reaproveitado do pacote rejeitado. A promessa do próprio governo é levantar mais de R$ 20 bilhões com o primeiro texto. Já o segundo projeto miraria despesas, com medidas de contenção e revisão de gastos. Na prática, o Planalto tenta reduzir resistências políticas espalhando a conta em pratos menores.
O problema é o de sempre: gastar menos continua sendo a parte incômoda da conversa — e, em ano pré-eleitoral, ninguém quer vestir o figurino do “corta, corta”. O governo acena com “controle” enquanto corre para tapar o rombo aberto pela derrota na Câmara. Sinal de ajuste sério seria atacar privilégios e ineficiências; sinal de contabilidade criativa é só trocar a embalagem e pedir voto de confiança.
Haddad diz que a meta fiscal segue de pé. O mercado duvida, o Congresso testa limites e a sociedade paga o ingresso. Se a arrecadação nova vier sem revisão de despesas, o “nó” fiscal não desata — só muda de lugar. Fatiar pode facilitar votação; não substitui coragem para reformar.
Em resumo: o governo tenta reempacotar a mesma pauta para arrecadar mais e vender disciplina no gasto. Se vier corte crível, ótimo. Se vier só mais imposto com nome de modernização, é receita velha com rótulo novo.
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