O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, admitiu em plenário que o STF cometeu erros graves nos julgamentos relacionados aos atos de 8 de janeiro. Durante a análise do chamado “Núcleo 4”, Fux afirmou que sua posição anterior, embora “amparada pela lógica da urgência”, acabou resultando em “injustiças” que ele já não conseguia sustentar. A confissão, raríssima na Corte, evidencia o que juristas e constitucionalistas vêm alertando há meses: o Supremo passou por cima de princípios básicos do Estado de Direito em nome de uma narrativa.
Ao reconhecer publicamente que decisões foram tomadas às pressas e sem o devido cuidado, Fux desmonta o discurso de infalibilidade que parte do STF tem tentado impor ao país. A urgência, antes tratada como justificativa nobre, agora soa como um álibi conveniente para atropelos jurídicos, prisões em massa, flexibilização de garantias e julgamentos em bloco — cenário que já vinha sendo criticado dentro e fora do meio jurídico.
A fala do ministro também expõe um problema mais profundo: se houve injustiça, houve injustiçados. E, se decisões foram equivocadas, não basta reconhecer — será preciso reparar. O reconhecimento abre uma ferida institucional que o próprio Supremo tentou esconder enquanto sustentava uma postura de absoluta correção, mesmo diante de erros evidentes, contradições e decisões consideradas políticas.
No momento em que o STF tenta recuperar credibilidade, a confissão de Fux revela aquilo que parte da sociedade já percebia: a Corte ultrapassou limites e agora tenta reescrever sua própria história. Resta saber se o reconhecimento tardio será acompanhado de responsabilização e revisão — ou se ficará apenas no discurso, enquanto os atingidos continuam pagando a conta de um julgamento que, segundo o próprio ministro, “incorreu em injustiças”.
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