O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou R$ 6,5 milhões movimentados em espécie pelo Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). O dado consta de relatório enviado à CPMI do INSS e indica também que a entidade girou R$ 1,2 bilhão no período analisado — operações classificadas como “complexas” pelo órgão de inteligência financeira.
O avanço das apurações ocorre no rastro da Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, que mirou esquema de descontos não autorizados em benefícios de aposentados e pensionistas. A ofensiva levou à exoneração de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS e, dias depois, à saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência.
Além do dinheiro vivo, os relatórios apontam crescimento acelerado do sindicato nos últimos anos. Entre 2021 e 2023, o número de filiados saltou de cerca de 170 mil para 420 mil, com faturamento passando de R$ 41 milhões para R$ 149 milhões, segundo auditoria citada pelo TCU.
O problema de fundo é de governança pública: a CGU e o TCU já haviam encontrado falhas sistêmicas no controle de descontos associativos na folha do INSS e determinaram medidas para proteger beneficiários, após analisar um universo de R$ 91 bilhões em lançamentos. Em amostras recentes, sindicatos só conseguiram comprovar 29% das cobranças; no caso do Sindnapi, não houve comprovação na amostra pedida.
Politicamente, o caso pressiona o governo federal porque a farra prosperou sob tutela da autarquia. Lupi, que deixou o cargo em maio, negou envolvimento direto, mas admitiu em oitiva que “havia descontrole” e que a gestão “não tinha dimensão” da fraude até o avanço das investigações. A CPMI segue examinando documentos do Coaf e avaliando novas convocações.
Perguntas que ficam: por que os controles internos falharam por tanto tempo? Quem se beneficiou das movimentações em espécie e quais mecanismos públicos foram burlados? Respostas consistentes exigem transparência do INSS, responsabilização dos envolvidos e revisão do modelo de consignados e descontos associativos — sob pena de a conta continuar caindo no colo de quem menos pode pagar: o aposentado.
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