Roubo aos velhinhos do INSS: secretário da Conafer vira “dono” de aviões

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Do auxílio aos hangares: secretário da Conafer vira “dono” de aviões e expõe falhas na fiscalização do INSS

Um secretário da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), morador do Recanto das Emas (DF), passou de beneficiário do auxílio emergencial a “proprietário” de ao menos duas aeronaves avaliadas em mais de R$ 3 milhões. Silas da Costa Vaz, 42 anos, recebeu 16 parcelas do benefício (R$ 4.050) durante a pandemia e agora aparece como comprador de um Beech 58P (PT-OOV) por R$ 2,5 milhões — o mesmo avião havia sido adquirido cinco meses antes por R$ 1 milhão pelo presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), ONG ligada à Conafer que recebe emendas parlamentares. Silas afirma que “assina muitos documentos” e diz não se lembrar de ter adquirido aeronaves.

Outra operação envolveu um Cessna 172RG (PR-ATM) que pertenceu ao deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG). O parlamentar vendeu a aeronave ao presidente do ITT por R$ 400 mil em 2023; em junho de 2025, o avião passou para o nome de Silas por R$ 700 mil e foi revendido no mês seguinte a um piloto. Antes disso, Pettersen destinou R$ 2,5 milhões em emendas à ONG para projetos de capacitação e inseminação bovina. A coluna aponta indícios de licitações simuladas e subcontratação de empresa ligada ao núcleo da Conafer, hoje alvo da PF na Operação Sem Desconto.

O caso acontece no rastro de um salto de 57.000% nos descontos promovidos pela Conafer sobre benefícios do INSS entre 2019 e 2023 — de R$ 350 mil para R$ 202 milhões, segundo auditoria da CGU. Relatórios indicam autorizações com percentuais acima do permitido e filiações em municípios distantes, o que reforça suspeitas de fraude. A escalada resultou na CPMI do INSS e em requisições de quebras de sigilo da cúpula da entidade.

O que dizem os citados — A Conafer afirma que o ITT não pertence à entidade e que não pode ser dona de bem não registrado em seu CNPJ; o ITT e seu presidente não se manifestaram até a publicação. Pettersen nega negócios com o dirigente do ITT e diz que se tratava de “avião monomotor de R$ 200 mil”. Em depoimentos anteriores, o presidente da Conafer, Carlos Roberto, já invocou “sigilo” para não detalhar remuneração e contratos.

Análise — O encadeamento de emendas públicas, compras e revendas de aeronaves com forte valorização em curto prazo, somado à explosão de descontos em folha de aposentados, evidencia falhas de governança e de fiscalização do INSS e dos ministérios responsáveis. Com a CPMI em curso e a CGU apontando distorções graves, caberá ao governo federal demonstrar controle efetivo, transparência e responsabilização — sem terceirizar a conta a idosos e pensionistas.

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Hamilton Silva — Editor-chefe do DFMobilidade, jornalista e economista (UCB), vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da ABBP.

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