A BYD elevou o tom e prevê uma “faxina” no setor automotivo chinês: segundo a vice-presidente executiva Stella Li, cerca de 100 das ~130 fabricantes podem ser “empurradas para fora” do mercado em meio ao fim dos descontos agressivos e à consolidação forçada pela queda de margens. A fala foi feita neste mês, em meio ao esforço de Pequim para conter a deflação e ordenar a concorrência.
O pano de fundo é conhecido: sobrecapacidade, estoques elevados e revendas vendendo com prejuízo para bater metas, num ciclo viciado iniciado por subsídios e ampliado por uma guerra de preços que agora o governo tenta frear. Investigações recentes detalham pátios abarrotados e “descontos disfarçados” por meio de seguros e financiamento a juro zero.
Mesmo líder em vendas, a própria BYD já sente o aperto. Após reduzir preços em dezenas de modelos este ano, a companhia viu queda de lucro trimestral e passou a moderar cortes, enquanto reforça que a disputa ficou “insustentável”.
Pequim, por sua vez, apertou regras e lançou um plano para “organizar” o setor — de metas de vendas a tolerância zero para marketing enganoso — e patrocinou um acordo para acelerar pagamentos a fornecedores, numa tentativa de reduzir o estresse de caixa na cadeia.
Para 2030, analistas projetam um mercado muito mais concentrado: algo como 15 marcas viáveis dominando três quartos das vendas, com apoio de governos locais ainda retardando o ritmo de fechamentos. Em outras palavras, consolidação é dada — a velocidade é a dúvida.
Impacto no Brasil: enquanto a limpeza avança na China, a BYD acelera a internacionalização. No país, iniciou a montagem em Camaçari (BA) em julho, com kits importados, ao mesmo tempo em que o governo federal sobe gradualmente o imposto de importação de eletrificados até 35% em 2026. O movimento pode reprecificar o segmento e tornar a produção local mais estratégica.
O que acompanhar a partir de agora: (1) novas medidas chinesas contra descontos “predatórios”; (2) balanços e guidance das montadoras locais sob margens comprimidas; (3) ritmo de consolidação (fechamentos e fusões); e (4) a curva de nacionalização e emprego na fábrica da BYD na Bahia diante do cronograma tarifário brasileiro.
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