Parlamentares do DF destinam R$ 53,3 milhões à Associação Moriá chefiada por ex-cabo, motorista e esteticista

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Parlamentares do DF destinam R$ 53,3 milhões à Associação Moriá chefiada por ex-cabo, motorista e esteticista

Em dois anos, deputados e senador do Distrito Federal alocaram R$ 53,3 milhões para a Associação Moriá, cuja diretoria reúne um ex-cabo do Exército, um motorista e uma esteticista, para executar o programa Jedis-DF, voltado a ensinar jogos eletrônicos a crianças e adolescentes .

Do montante, R$ 46 milhões foram destinados exclusivamente ao programa de e-sports, que oferece treinamento em títulos como Free Fire, Valorant, LoL, Teamfight Tactics e eFootball. O deputado federal Fred Linhares (Republicanos) foi responsável pela indicação de R$ 27,6 milhões, seguido pelo senador Izalci Lucas (PL), com R$ 15,5 milhões. A deputada federal Bia Kicis (PL) destinou R$ 1,5 milhão.

A emenda mais volumosa, de R$ 37,9 milhões, foi empenhada em dezembro de 2024 junto ao Ministério do Esporte, na categoria de custeio — recursos voltados ao pagamento de salários e aluguel, sem previsão de aquisição de bens permanentes .

Conforme documentação oficial registrada no Cartório do 2º Ofício de Brasília em 26 de novembro de 2024, o corpo diretivo da Associação Moriá inclui José Vitor da Fonseca de Deus como diretor administrativo e financeiro, Thais Pinheiro Freitas na diretoria operacional, Danielle Bezerra da Silva como secretária e Gustavo Henrique Fonseca de Deus como presidente, irmão de José Vitor e ex-cabo do Exército por oito anos .

Em visitas realizadas à sede da associação nos dias 11 e 14 de julho de 2025, equipes de reportagem constataram uma sala de 32 metros quadrados vazia e sem identificação. A administração do edifício no Setor de Rádio e TV Norte informou que o endereço estava registrado como ocupado por pessoa física, sem indícios de atividades da entidade .

O Ministério do Esporte esclareceu que “o projeto mencionado não é de iniciativa” da pasta, tratando-se de emenda impositiva de bancada de pagamento obrigatório, com termo de fomento empenhado em 2022 e em fase de prestação de contas. A pasta afirmou ainda que não faz “gestão quanto à escolha das entidades, nem quanto à sua força de trabalho” e que a visita técnica realizada no segundo semestre de 2024 confirmou as informações cadastrais no Portal Transferegov .

Em nota, a Associação Moriá defendeu que sua gestão “é formada por profissionais com perfis técnicos e sociais diversos”, garantindo atuação multidisciplinar, e que a remuneração dos membros do conselho consultivo respeita “valores praticados pelo mercado, considerando a natureza da função e a realidade econômica da região”. A entidade informou também que a mudança de sede para o Setor de Autarquias Sul está em andamento junto à Receita Federal, motivo pelo qual o endereço antigo ainda consta nos registros .

Em nota oficial, o deputado Fred Linhares afirmou que “seu papel se restringe à indicação de recursos ao ministério competente, responsável pela análise técnica, aprovação e execução do projeto apresentado pela entidade proponente. Cabe exclusivamente ao governo federal avaliar a viabilidade do projeto, atestar a capacidade técnica da instituição e autorizar a liberação dos recursos”. O senador Izalci Lucas complementou que o Jedis-DF “é uma iniciativa da Associação Moriá, realizada em parceria com o Instituto Federal de Brasília e o Sesc, executada por meio do Ministério do Esporte” .

A deputada federal Bia Kicis destacou que a “indicação dos recursos foi feita por meio de emenda de bancada, por indicação do deputado Fred Linhares, e aprovada de forma coletiva, para um projeto que considero relevante: qualificação de jovens em áreas digitais, com foco nos jogos digitais e tecnologia, setores importantes para o futuro do DF e geração de emprego e renda”. A deputada distrital Paula Belmonte ressaltou o caráter inclusivo do projeto, voltado ao atendimento de crianças, adolescentes e pessoas com deficiência na rede pública, enquanto o deputado Julio Cesar afirmou que a emenda seguiu “os trâmites legais previstos no orçamento público, com indicação de recursos ao ministério responsável e mérito social da proposta” .

Especialistas e órgãos de controle alertam para a ausência de rastreabilidade em grande parte das emendas de bancada: apenas 25% delas são integralmente rastreáveis desde o lançamento até o pagamento, segundo relatório do Tribunal de Contas da União de março de 2025, o que compromete a fiscalização e a transparência do gasto público. Em 22 de janeiro de 2025, o TCU aprovou auditoria para verificar a execução dessas emendas, incluindo as estaduais, com o objetivo de propor medidas que aprimorem a governança e a accountability dos recursos .

O episódio ressalta a necessidade de rigor na seleção de entidades beneficiárias e no acompanhamento das prestações de contas, sobretudo em projetos que envolvem valores elevados e gestores com experiência questionável no setor.

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