Em uma reação imediata à carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho, anunciando a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto de 2025, o setor pesqueiro nacional sofreu ontem sua primeira paralisação em larga escala: 58 contêineres frigoríficos, equivalentes a cerca de mil toneladas de pescados, deixaram de embarcar nos portos de Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE) .
Segundo a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), representantes dos compradores americanos pediram a suspensão imediata das remessas até que seja definido o valor praticado sob a nova tarifa e haja espaço para renegociação, gerando “desespero no setor” diante da incerteza sobre os custos adicionais que incidirão sobre cada contêiner .
Em 2024, o Brasil exportou 53,8 mil toneladas de pescados, arrecadando US$ 272,9 milhões, dos quais aproximadamente 46% destinaram-se aos Estados Unidos . Apenas no primeiro trimestre de 2025, as vendas externas de pescado de cultivo atingiram US$ 18,5 milhões, aumento de 112% em relação a igual período de 2024, com tilápia respondendo por 92% desse valor . Os 58 contêineres retidos correspondem, portanto, a cerca de 1,8% do volume exportado no ano passado.
No âmbito político, o governo federal anunciou ontem uma ofensiva diplomática. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que buscará negociar diretamente com a administração americana, mas advertiu que, na ausência de acordo, aplicará medidas recíprocas previstas na Lei da Reciprocidade Comercial, sancionada em abril de 2025 . Além disso, Lula publicou um artigo em nove países defendendo o multilateralismo e avisando que o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio caso as tarifas sejam mantidas .
No mercado financeiro, a notícia do “tarifaço” de Trump provocou forte volatilidade: o real desvalorizou-se em cerca de 2% no dia 10 de julho, chegando a R$ 5,62 por dólar no momento de maior pressão, e o Ibovespa recuou 0,54%, refletindo receios sobre a queda no volume de exportações e no ingresso de divisas . A Lei da Reciprocidade Comercial autoriza o Brasil a suspender direitos comerciais e de propriedade intelectual de países que imponham barreiras unilaterais a produtos nacionais .
Diante do impasse, associações do setor pesqueiro pedem ao Ministério das Relações Exteriores que interceda junto à Embaixada dos EUA em Brasília para acelerar as renegociações e que a Câmara Brasileira do Comércio em Miami seja mobilizada na interlocução com importadores americanos. A retomada dos embarques depende agora de um entendimento claro sobre o preço final das tarifas e da definição de cláusulas de ajuste automático em contratos já assinados.
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