Em 1.º de julho de 2025, o Comitê Judiciário da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos tornou público um relatório provisório intitulado Exporting Censorship: How GARM’s Advertising Cartel Helped Corporations Collude with Foreign Governments to Silence American Speech, no qual se detalha a atuação da Global Alliance for Responsible Media (GARM) como um verdadeiro cartel de publicidade. Segundo o documento, a GARM, iniciativa voluntária criada em 2019 pela World Federation of Advertisers (WFA), coordenou boicotes e alianças com agências reguladoras estrangeiras para pressionar o Twitter, então de propriedade de Elon Musk, a restringir gastos em publicidade e a remover conteúdos contrários aos interesses de seus membros .
O relatório acusa Robert Rakowitz, cofundador e líder de iniciativa da GARM, de classificar a retórica do então presidente Donald Trump como uma “contagion” a ser contida, privilegiando esforços para silenciar vozes políticas consideradas indesejáveis . Documentos fornecidos ao Comitê indicam que a GARM elaborou declarações destinadas a seus associados, orientando-os a cessar imediatamente os investimentos em anúncios no Twitter e a cobrar das plataformas a remoção de publicações específicas, mesmo ciente de que tais medidas não refletiam a preferência da maioria dos consumidores americanos .
Além disso, o texto expõe que a GARM articulou-se diretamente com autoridades da Comissão Europeia e com a Comissão de eSafety da Austrália, solicitando apoio regulatório para intensificar a pressão sobre o Twitter e garantir a adoção de seus padrões de segurança de marca . Esses esforços, descritos como coordenação com governos estrangeiros, teriam reforçado as ameaças de boicote e ampliado o alcance do cartel para além dos limites da indústria publicitária.
A crise atingiu o ápice em agosto de 2024, quando o Twitter – já rebatizado de X – ajuizou ação antitruste contra a WFA e diversos anunciantes, alegando que o grupo havia orquestrado um boicote publicitário que resultou na retirada de bilhões de dólares em receitas da plataforma. Em resposta, a WFA anunciou a descontinuação das atividades da GARM em 9 de agosto de 2024, atribuindo à disputa judicial o esgotamento de seus recursos financeiros .
O relatório conclui que a dissolução da GARM não elimina a ameaça de práticas colusivas contra a liberdade de expressão e sinaliza ao Congresso norte-americano a necessidade de aperfeiçoar a legislação antitruste. O Comitê informou que seguirá acompanhando a aplicação das normas vigentes e avaliará propostas de reforma para coibir condutas que prejudiquem o livre mercado e os direitos civis dos cidadãos .
Fica, porém, uma questão relevante aos observadores brasileiros: esses interesses poderiam estar relacionados de alguma maneira a setores da esquerda brasileira, direta ou indiretamente alinhados às pautas de responsabilização de grandes plataformas e à agenda de regulação de conteúdo? Investigar possíveis conexões entre associações de anunciantes globais e grupos políticos nacionais é fundamental para compreender o alcance dessas estratégias e avaliar seus impactos sobre a diversidade de vozes no Brasil.
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Hamilton Silva
jornalista, economista e editor-chefe do portal DFMobilidade.