Uma apuração exclusiva da Reuters revela que traders teriam utilizado o território brasileiro para “rebatizar” mais de US$ 1 bilhão em petróleo venezuelano, driblando sanções internacionais impostas a Caracas desde 2019.
Segundo documentos internos, dados de rastreamento de petroleiros e fontes envolvidas na operação, cargas de crude pesado da Venezuela — sobretudo o Merey, oriundo do cinturão de Orinoco — foram embarcadas rumo à China sob a classificação “bitumen blend brasileiro”. Essa etiqueta falsa permitia eliminar custos e riscos associados a transferências em alto-mar e evitar o bloqueio de instituições financeiras norte-americanas.
Entre julho de 2024 e março de 2025, a alfândega chinesa reportou importações médias de 67 000 barris por dia sob o rótulo “bitumen brasileiro”, num volume incompatível com a exportação legítima da Petrobras — que, na prática, não comercializa esse tipo de mistura. Ainda segundo a Reuters, a estratégia incluiu transferências navio a navio e “signal spoofing”, técnica que falseia a localização dos barcos para indicar partida de portos brasileiros, não venezuelanos.
O esquema, que totaliza mais de 463 000 barris diários de petróleo venezuelano movimentados em média no início de 2025, expõe não só a persistência das manobras de Nicolás Maduro para manter receitas em meio à crise econômica, mas também fragilidades de controle na cadeia logística brasileira. Especialistas em sanções alertam para riscos reputacionais e de compliance a embarcadores e terminais nacionais eventualmente envolvidos, ainda que não haja, até o momento, indícios de conivência oficial do governo brasileiro.
Às autoridades dos EUA, cabe agora aprofundar o inquérito e, possivelmente, estender sanções a novas entidades e embarcações. No Brasil, a Polícia Federal e a Receita Federal indicam monitoramento reforçado, mas evitam comentar investigações em curso.
sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista, economista e editor-chefe do Portal DFMobilidade.
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