Em carta a Moraes, Débora pede desculpas por “ato desprezível” e que “filhos choram todos os dias”

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Débora Rodrigues, a cabeleireira presa por pintar de batom a frase “perdeu, mané” na estátua da Justiça, escreveu uma carta a Alexandre de Moraes, em outubro de 2024. No texto, ela pede desculpas pelo ato “desprezível”, diz que foi tomada pelo “calor do momento” e que nunca concordou com o “quebra quebra“. “Repudio o vandalismo, contudo, eu estava ali porque eu queria ser ouvida, queria maiores explicações sobre o resultado das eleições tão conturbadas de 2022”, diz, no texto, obtido em primeira mão por este site.

Ela relata que, quando estava próxima da estátua, “um homem” que nunca havia visto antes, “começou a escrever a frase e pediu para que eu a terminasse, pois sua letra era ilegível”. “Talvez tenha me faltado malícia para rejeitar o ‘convite’, o que não justifica minha atitude. Me arrependo deste ato amargamente, pois causou separação entre eu e meus filhos (sic)”, diz. Débora explica ainda que não sabia da importância da estátua e nem que “representa a instituição do STF”, ou mesmo que “seu valor é de R$ 2 milhões”.

“Se eu soubesse, jamais teria a audácia de sequer encostar nela. Minha intenção não era ferir o Estado Democrático de Direito, pois sei que o mesmo consiste na base de uma nação”.

Na carta, de três páginas e escrita à mão, a cabeleireira diz que, neste período de reclusão, perdeu muito mais que a liberdade.

“Perdi a chance de ajudar o Rafinha na alfabetização, não o vi fazer a troca dos dentinhos de leite, perdi dois anos letivos dos meus filhos e momentos que nunca mais voltarão. Meus filhos estão sofrendo muito, choram todos os dias por minha ausência, passam por psicólogos a fim de ajudá-los a organizar os sentimentos. Um castigo e uma culpa que vou lamentar enquanto eu viver.”

Débora também diz que seu conhecimento sobre política é “raso ou nenhum”, e que tomou aversão: “Quero ficar o mais distante possível disso tudo”. “Entendi que quando somos tomados pelo entusiasmo e a cólera, podemos praticar atitudes que não contribuem em nada. O que fiz não me representa e nem transmite a mensagem que eu sonhei em tecer para os meus filhos. O que mais almejo é ter minha vida pacata e simples de volta e ao lado da minha família.”

A carta, que estava até hoje protegida pelo sigilo do processo, não sensibilizou o ministro, que a condenou a 14 anos de prisão, inclusive fixando sua pena acima do limite legal sob a alegação de que ela teria ocultado provas. No julgamento de hoje, o ministro Luiz Fux ressaltou que revisará a dosimetria do caso.

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