A paralisação dos médicos do Distrito Federal, iniciada no dia 3 de setembro, completa 11 dias nesta sexta-feira (13/9), e a situação na saúde pública do DF se agrava a cada dia. Apesar da proibição judicial e da imposição de uma multa diária de R$ 100 mil, a categoria mantém a greve, ignorando a decisão da Justiça.
O desembargador Fernando Habibe, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), havia proibido a greve no dia 27 de agosto e aumentou a multa diária para R$ 200 mil após a categoria ignorar a primeira decisão. Com a greve prolongada, a multa já ultrapassa R$ 2 milhões.
A questão envolve não apenas a valorização dos profissionais de saúde, mas também o impacto financeiro sobre os cofres públicos.
A remuneração dos médicos concursados, especialmente em Brasília, alcança valores que, para muitos, podem parecer astronômicos, desafiando até mesmo o teto constitucional, que em 2024 é de R$ 44.008,52 e, em 2025, será de R$ 46.366,19 para os servidores públicos.
O que muitos desconhecem é que, com a adição de horas extras (fixada no mesmo valor do teto), esses profissionais da saúde podem, de fato, ultrapassar em muito esse teto. Alguns chegam a receber até R$ 85 mil mensais, um montante que contrasta fortemente com a remuneração de diversas outras categorias do funcionalismo público. Vale lembrar que o teto aplicado às horas extras também segue o limite estabelecido pela Constituição, hoje vinculado ao subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Segundo dados recentes, a Secretaria de Saúde do DF destina quase R$ 25 milhões por mês apenas para cobrir o pagamento de horas extras de seus servidores, com um gasto total de R$ 180 milhões mensais apenas com a folha de pagamento dos médicos. Essa cifra coloca os salários dos médicos do Distrito Federal entre os mais altos do país, superando de longe o piso salarial sugerido pela Federação Nacional dos Médicos, que é de R$ 19.500,00 para uma jornada semanal de 20 horas.
O cenário fica ainda mais complexo quando se consideram as diversas gratificações que esses profissionais recebem, como a Gratificação de Atividade Médica, a de Condições Especiais de Trabalho, e a Gratificação de Incentivo às Ações Básicas de Saúde (GIABS), entre outras. A realidade salarial, portanto, vai muito além do que as tabelas salariais oficiais costumam apresentar, gerando uma narrativa de que os valores estão desatualizados e não refletem o verdadeiro panorama financeiro da categoria.
Esse é um assunto que, sem dúvida, merece a atenção não apenas dos gestores públicos, mas também da sociedade, que espera transparência e equidade na gestão dos recursos destinados à saúde pública.
Dito isto, a greve dos médicos do Distrito Federal é dessas tragédias que só o Brasil sabe encenar com tamanha maestria. Sim, porque o que temos diante de nós não é apenas uma paralisação, é um grande teatro do absurdo. Ora, médicos com salários que vão de R$ 22 mil a R$ 85 mil por mês — uma remuneração que, para o povão, soa como uma piada de mau gosto — resolvem cruzar os braços. E por quê? Porque querem mais! O que mais, eu lhes pergunto?
A população, coitada, já acostumada a esperar na fila por um atendimento que nunca chega, agora vê esses doutores, pagos a peso de ouro, se recusarem a trabalhar. O drama é daqueles que ofende os sentidos: milhões destinados à saúde, cifras de fazer inveja, e o que o povo recebe em troca? Silêncio. Silêncio nas salas de espera, nos corredores dos hospitais, no coração de quem sofre.
E, não bastasse a ausência de um atendimento digno, esses mesmos médicos desafiam até a Justiça, como se fossem intocáveis, como se a lei, para eles, fosse apenas uma página virada. Enquanto isso, lá fora, milhares de almas padecem sem ter quem lhes dê o remédio, o diagnóstico, o mínimo de humanidade.
Por: Hamilton Silva é editor-chefe do Portal DFMobilidade e atua como jornalista há 13 anos. É economista desde 1998, formado pela Universidade Católica de Brasília e pós-graduado em gestão pública