Na Cúpula do Mercosul que ocorre neste sábado em Foz do Iguaçu (PR), o presidente argentino Javier Milei e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva protagonizaram um claro embate diplomático, evidenciando divergências profundas sobre temas centrais da política externa continental.
Milei, líder com viés libertário e alinhado com políticas conservadoras globais, criticou a postura moderada do Brasil ao abordar a crise na Venezuela. Para ele, a pressão dos Estados Unidos contra o regime de Nicolás Maduro é não apenas legítima, mas necessária para “libertar o povo venezuelano” de uma “ditadura” que ele classifica como fonte de miséria e instabilidade na região. Milei elogiou explicitamente a intensificação das ações de Washington no Caribe e as sanções de Donald Trump, sugerindo que a hora de soluções “tímidas” chegou ao fim.
Do outro lado, Lula insistiu em um discurso diametralmente oposto. No mesmo encontro, o presidente brasileiro alertou que qualquer intervenção armada dos EUA na Venezuela seria uma “catástrofe humanitária” e um precedente perigoso para o hemisfério, reforçando a tradição diplomática do Brasil de buscar soluções pacíficas e respeitar o direito internacional. Sua posição inclui ofertas de mediação entre Washington e Caracas para reduzir tensões — um contraponto claro à retórica de confrontação defendida por Milei.
Além da questão venezuelana, as diferenças de visão aparecem também na própria concepção do Mercosul. Enquanto Lula e aliados do bloco trabalham para fortalecer o regionalismo como instrumento de cooperação política e econômica — inclusive tentando avançar negociações com a União Europeia — Milei mantém uma postura mais crítica à integração tradicional, defendendo aberturas que privilegiem acordos bilaterais e reduzam o que considera entraves burocráticos ao comércio e à competitividade.
A divergência exposta na cúpula marca não apenas uma disputa retórica, mas também diferenças substantivas sobre soberania, intervenção estrangeira, papel das instituições regionais e alinhamentos internacionais. Lula busca preservar a autonomia de decisões diplomáticas da América Latina e evitar choques com potências extrarregionais. Milei, por sua vez, adota uma linha mais confrontacional, alinhada com uma direita hemisférica que apoia o uso da pressão externa como mecanismo para mudança de regime.
Esse atrito entre Buenos Aires e Brasília reflete uma América do Sul politicamente fragmentada, em que atores com prioridades e alianças diferentes disputam influência, a imagem do bloco e o futuro das relações externas do continente.
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