Na manhã chuvosa desta terça-feira (9), um silêncio elétrico — e literalmente digital — tomou conta da estrada entre o Terminal São Roque, em Piraquara, e o Parque das Águas, em Pinhais. Foi ali que entrou em operação oficial a primeira viagem do Bonde Urbano Digital (BUD), o mais novo capítulo da mobilidade metropolitana do estado. A adesão popular, nas poucas poltronas ocupadas por convidados e autoridades, reforça: o futuro no transporte coletivo parece ter chegado.
Tecnologia híbrida e ambição de mudar o transporte público
O BUD traz uma proposta audaciosa: conciliar a eficiência de um VLT com a flexibilidade de um BRT, sem depender de trilhos físicos. O segredo está no uso da tecnologia Digital Rail Transit (DRT), que guia um “trilho virtual” por meio de marcadores magnéticos e sensores embutidos no asfalto — solução pensada para reduzir custos de infraestrutura e permitir modernização rápida.
Com carro de 30 metros de comprimento, ar-condicionado, capacidade para 280 passageiros e velocidade de até 70 km/h (superior aos ônibus convencionais), o BUD se apresenta como “solução de custo-benefício mais barato que metrô ou VLT” segundo o governador que acompanhou a viagem inaugural.
A tarifa, para tornar o sistema competitivo, será de R$ 5,50 — o mesmo valor cobrado no transporte metropolitano tradicional.
Reações no banco da frente: entusiasmo e expectativa
Quem embarcou na primeira leva deixou claro o sentimento de novidade e otimismo. O estudante de 10 anos, morador de Piraquara, resumiu bem: “achei silencioso. É legal porque é autônomo e não precisa de motorista”.
Para a jovem estudante de 15 anos, participante de programa de intercâmbio, o BUD representa “um salto tecnológico” e uma esperança de mobilidade melhor para quem vive e trabalha na região. “Vai ajudar muito quem se desloca entre as cidades”, disse.
Já o aposentado de 79 anos, impressionado com o conforto e a tranquilidade do veículo, foi direto ao ponto: “conforto eu tenho — é uma maravilha. Estou orgulhoso. Meu país é ‘o’ país”.
Dos motoristas à equipe técnica, também havia orgulho: “menos ruído, mais estabilidade. Melhora para o motorista e para o cidadão”, comentou um dos condutores da viagem inaugural, que passou por treinamento específico.
Próximos passos e desafios — a parte nem sempre lembrada
Nesta primeira semana, o BUD vai operar apenas entre o Terminal São Roque e o Parque das Águas. Na sequência, a rota será estendida até o Terminal de Pinhais — que ainda está em adequações. Até lá, os ônibus convencionais continuam circulando paralelamente, o que deve evitar um estouro de demanda antes da consolidação do novo sistema.
Apesar do otimismo e dos elogios iniciais, a manutenção do sistema — adaptação de terminais, custo de energia elétrica, gestão da demanda — e a aceitação popular no longo prazo ainda terão de ser comprovadas. Mas, pelo menos na estreia, o BUD conseguiu provar que a tecnologia pode andar — e bem — sobre o asfalto.




