A disputa aberta entre o Palácio do Planalto e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pela indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) deixou de ser apenas um embate sobre a composição da Corte. Nos bastidores, o comando do Banco do Brasil — uma das joias da coroa das estatais federais — virou a peça mais cobiçada no tabuleiro e a principal suspeita de moeda de troca nessa queda de braço.
Em nota dura divulgada neste fim de semana, Alcolumbre acusou setores do governo Lula de tentarem “criar a falsa impressão” de que o Senado estaria condicionando a sabatina de Messias a “ajustes de interesse fisiológico, com cargos e emendas”. Para o presidente do Senado, a narrativa do Executivo é “ofensiva” e busca desqualificar quem diverge do Planalto.
Enquanto o Senado se diz alvo de tentativa de desmoralização, diferentes veículos de imprensa relatam justamente o contrário: que Alcolumbre teria apresentado ao governo uma fatura pesada para aliviar a pressão sobre o Planalto. Entre os cargos desejados estariam presidências de bancos públicos e autarquias estratégicas, com destaque para o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste (BNB), o Cade e a CVM.
No caso específico do Banco do Brasil, o apetite político é explícito. Reportagens apontam que a presidência da instituição, hoje ocupada por Tarciana Medeiros — primeira mulher a comandar o banco em mais de dois séculos de história — entrou no radar de Alcolumbre como peça principal na negociação em torno da aprovação de Messias no Senado.
Do lado do governo, a posição oficial é de que não há “barganha” nem disposição de “rebaixar” a relação com o Senado a troca de cargos, e de que Tarciana conta, em público, com respaldo do presidente Lula, que a classifica como quadro técnico com bom desempenho. Ao mesmo tempo, integrantes da base admitem, reservadamente, que há ofertas de espaços em outros órgãos para tentar reduzir a temperatura com o Congresso — o que reforça a percepção de que a articulação política segue ancorada em velhas práticas.
O mercado financeiro já começou a reagir à possibilidade de o Banco do Brasil virar prenda de disputa política. Análises dirigidas a investidores alertam que uma eventual troca no comando, motivada não por critérios técnicos, mas por pressão partidária, pode afetar a governança do BB, a previsibilidade de sua estratégia e, em última instância, a confiança sobre as ações BBAS3. O fato de o banco ser lucrativo e cumprir papel central em crédito agrícola, financiamento empresarial e políticas públicas torna qualquer sinal de interferência ainda mais sensível.
Politicamente, o episódio expõe a fragilidade da articulação do governo Lula no Congresso. Em vez de uma coalizão minimamente estável, o Planalto administra focos sucessivos de crise — agora com o próprio presidente do Senado — e se vê às voltas com a acusação simbólica mais incômoda que um governo pode ouvir: a de que o controle de estatais estratégicas, como o Banco do Brasil, virou ficha de cassino em negociação por votos no STF e em outras pautas sensíveis.
No curto prazo, o desfecho da sabatina de Jorge Messias e o destino de Tarciana Medeiros no comando do Banco do Brasil serão o termômetro da crise. No médio prazo, a pergunta que fica é simples — e incômoda: o governo pretende tratar o BB como instituição de Estado, com blindagem mínima contra pressões fisiológicas, ou como mais um cargo na prateleira das negociações políticas em Brasília? A resposta interessa ao Senado, ao Planalto, ao mercado e, principalmente, aos milhões de correntistas e contribuintes que financiam, sem escolha, essa disputa.
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