A primavera eleitoral se aproxima, e com ela desabrocham os projetos de utilidade midiática — folhas vistosas, raízes rasas. Brotam do chão do plenário ideias que não alimentam, não educam, não transportam, mas encantam os olhos de quem passa com pressa de se reeleger.
A mais recente flor do oportunismo político tenta rebatizar a Estação 108 Sul do Metrô-DF como “Enfermeira Anna Nery”. Uma homenagem que, embora nobre em tese, cheira mais a perfume eleitoral do que a reconhecimento histórico genuíno. No fundo, o gesto é menos sobre Anna e mais sobre quem a nomeia. No palco das intenções, o símbolo sempre sobe ao centro quando faltam políticas com peso específico.
O presidente do Metrô-DF, Handerson Cabral, lembrou, com aquele ar de quem ainda acredita que o bom senso pode vencer a encenação, que estações do metrô não são vitrines ideológicas nem feudos de homenagens improvisadas. Além de esbarrar nas recomendações do Tribunal de Contas, há algo chamado orçamento — uma criatura que raramente sobrevive a projetos que priorizam o ego à infraestrutura.
Brasília já viu esse filme. Em 2022, o roteiro incluiu a renomeação da Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino Guimarães — outro espetáculo simbólico embalado por discursos, faixas, lágrimas e verbas mal direcionadas. A ponte continua lá, cruzada diariamente por cidadãos que pouco se importam com o nome na placa, desde que não haja buracos no asfalto.
Essas iniciativas não são casos isolados. São sinais claros de que entrou em cartaz a temporada de “marcar território”. Projetos aparecerão como capivaras no Eixão, em grupos, em horários inusitados e sempre com um sorriso para as câmeras. E, claro, acompanhados de críticas ao governo — não as técnicas, mas aquelas de efeito sonoro, prontas para a claque digital.
Brasília vai virando um tabuleiro simbólico, onde nomes e placas são jogadas como peças para demarcar narrativas. A cidade, que deveria ser tratada como bem coletivo, vira mural para vaidades individuais.
Enquanto isso, o cidadão real — aquele que acorda às cinco da manhã para pegar um metrô lotado e chegar a tempo ao trabalho — não quer saber se a estação tem nome de heroína, político ou número. Ele quer que o trem passe. Que a porta feche. E que o trajeto funcione.
Porque nome não empurra trem. Nem sustenta governo. Muito menos garante voto.