A cultura da crítica: praga moderna ou demônio disfarçado na política de Brasília?

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Por Hamilton Silva

A crítica é um dos alicerces da democracia. Mas quando vira puro espetáculo — arma de autopromoção e caça-níqueis eleitorais — se transforma em praga que corrói a credibilidade de todos.

A origem genuína da crítica e seu desvio teatral. Desde Aristóteles, que defendeu o debate como caminho para o aprimoramento societal, até a redemocratização de 1988, a crítica cumpriu a função de refinar processos e apontar falhas reais. Em Brasília, o ex-governador Joaquim Roriz jamais sofreu impeachment, embora tenha sido alvo de intensas críticas por supostas irregularidades. Grande diferença entre cobrar transparência e fazer circo no Twitter para ganhar curtidas.

O demônio da crítica pela crítica — e a farsa dramática. No cristianismo, Jesus alertou contra a hipocrisia: criticar o cisco no olho alheio e ignorar a trave no próprio. Nas redes do DF, não faltam cidadãos comuns que viram atores de novela mexicana. Esta semana, uma enfermeira do Hospital Regional do Gama postou um vídeo criticando a deplorável estrutura do plantão. As dificuldades são reais, mas sua interpretação impecável deixou um gosto amargo: se vestisse o uniforme sem roteiro, talvez convencesse mais. No palco digital, tudo vira teatro.

Ferramenta de desconstrução que engendra fogo amigo. Hoje, críticas vazias se tornam munição tanto para a oposição quanto para a situação. Eleitores veem Instagram Stories de professores, motoristas de aplicativo e servidores públicos vociferando por status, não por mudança. O grito viral garante engajamento, retweets e, quem sabe, um cargo eletivo.

Em ano pré-eleitoral, a crítica sem substância coloniza discursos: oportunistas exploram a carência de transporte em Ceilândia e canibalizam o Metrô. Observo diariamente olhares de usuários do transporte público torcendo para que tudo não funcione ou simplesmente pare, sabe para que? Para que seus argumentos críticos sejam validados, a falta de médicos em Sobradinho e Gama e a pobreza de Planaltina e São Sebastião como enredos prontos para viralizar.

Sem propostas reais, aplaudem-se cenas de indignação e produzem cenas dos Prontos Socorros como se isso fosse cena real. Outro dia vi um vídeo de um deputado distrital dando showzinho na rodoviária do Plano Piloto não para resolver o problema; o que ele mais desejava naquele momento era aparecer. Estes ignoram projetos de mobilidade e saúde que deram certo.

Não, não à terra arrasada não pode ser ferramenta dos verdadeiros democratas. Focar no defeito, focar na falha é como focar na escassez, na falta! Assim nunca prosperaremos.

Se a crítica se torna espetáculo, o verdadeiro papel de cidadania se perde. Brasília precisa retomar o debate sério: quem critica para conquistar voto expõe mais sua ambição do que qualquer falha alheia.

A murmuração fecha portas!

 

Sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista e editor-chefe do portal DFMobilidade.

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